segunda-feira, 16 de junho de 2008

Hoje...


....Encarei a morte de frente, e o sofrimento de tal ordem, que faz alguém querer partir à força.
Hoje dei as mãos à última centelha de esperança de alguém que vai partir em breve, disse-lhe adeus, mas prometi que amanhã voltava para me despedir. Talvez já vá tarde.
É em dias destes, em que outras coisas correm mal, e nos sentimos fechados dentro de uma caixa que se aperta, sem sítio para onde fugir, que os pequenos gestos ganham significado..
Talvez sem consciência disso mas por vezes esses pequenos gestos são de tal maneira importante, tão fortes, que afastam o negrume de todas as coisas más, e roubam-me um sorriso...que eu de bom grado entrego.

A todas essas pequenas coisas...

...Que nos dão força para mais um dia.

Até à próxima maré alta!

Ass: Russo

quarta-feira, 11 de junho de 2008

No fim do Mundo


Um arrepio.
Era apenas o que ele sentia naquele momento.
Sozinho na ponta do Mundo, naquele sítio, onde a Terra acaba e o Mar começa, aquele lugar medonho, onde as vagas queriam engolir tudo o que tivesse ousadia de ser.
O Sol tinha deixado de brilhar, ali apenas uma ténue luminosidade se atrevia a fazer ver entre a névoa salgada que o Mar cuspia pelas rochas acima, como um gigante enraivecido.
Sentiu-se só.
Até o próprio medo tinha saído daquele lugar, daquele momento, ele quase que podia sentir o tempo a parar como aquele arrepio que lhe subia pela espinha....que o tentava colar à Terra...seria a gravidade? O que seria? Talvez o Mundo que ele achava que conhecia não passa-se de um sonho demasiadamente elaborado, vez e vez sem conta...
Essa força inundou-o, não fez um esforço para a mandar embora, deixou-se absorver, consumir por ela. O Tempo deixou de ser Tempo, os ponteiros até poderiam andar para trás, ele deixou-se estar, naquela paz assustadora, desesperante, naquele gelo que lhe toldava as ideias, que o anestesiava.
A Luz começava pouco a pouco a ceder, o Breu iria ser senhor daquele sítio no fim do Mundo dentro de poucos momentos.
Ele deixou-se estar, estava demasiado cansado para sair dali, estava demasiado cansado para sentir ou para se preocupar.
Um relâmpago riscou o Céu, para o lembrar que estava vivo, e que esse sentimento de inexpugnabilidade não era para ele, não era para aquela altura.
Abriu os olhos.
Deixou-se estar, a fitar e a perder-se no negrume que pairava por cima dele como um martelo dos próprios Deuses prestes a desabar em cima daquele sítio, no fim daquele Mundo.
Imaginou uma companhia, um anjo vindo de outro mundo qualquer, e que se senta-se junto dele.
Imaginou, imaginou, imaginou....mas por fim a noite caiu, dilacerando até essa última e desumana réstia de esperança.
Levantou-se, beijou a chuva que agora fustigava aquele sítio esquecido pelos Homens, bebeu dela, e seguiu o seu caminho, de volta a um Mundo que apesar de não ser o dele, era onde pertencia....


Ass: Russo

terça-feira, 10 de junho de 2008

...Conter.


As palavras ganham novo significado, quando durante a nossa vida descobrimos que vivemos, ou fazemos algo que corresponde a uma palavra que nunca nos passou pela cabeça que passasse a ser tão importante, nem que seja temporariamente na nossa vida.
Assim me sinto, descobri uma difícil e dolorosa aprendizagem, ou processo de aprendizagem.
Existem sentimentos tão grandes, tão fortes, que achamos tão belos e puros que até nos revolta ter que os conter...pelo menos eu sinto-me assim.
Não é ir contra todos os princípios pelos quais tantas vezes batemos com a mão no peito? É.
Apetece-me não me conter mais, apetece-me explodir, envolver-me pelo que sinto, deixar que o sonho comande a minha vida como sempre fez, essa sensação inebriante de ser levado, de passar para o real aquilo que dantes apenas podia ser imaginado.
Mas não.
Estou a aprender que às vezes, temos que domar todo esse turbilhão de emoções ou sentimentos, para bem dos outros, para o nosso, para o de ambos.
Se sou capaz? Não sei, não me importo muito em saber, por vezes sinto-me como se agarrasse uma lâmina e aperta-se com as minhas mãos com toda a força que me resta, é esgotante é verdade.
Valerá a pena? Não sei, mas tenho que tentar não é...
Talvez no fundo haja coisas indomáveis, e o coração e o Amor sejam uma delas, comigo andam de mãos dadas, para meu bem, e mal.
Entretanto tenho que me ir aguentado, não deixar que esta vontade de dar, esta intensidade de viver faça mal a quem gosto, ou a mim.
Tu amiga, sabes bem como é....
Mas ás vezes é difícil lutar contra aquele frio, contra um olhar que lanço e me escapa sem que eu me aperceba...torno-me outra vez num livro fácil de ler.
Estou a precisar de férias, de paz, de Mar, de sal e Sol. E estou a precisar de ti, e daquilo que tens para me dar.

Hoje tinha mesmo que escrever, já sentia aquele arrepio característico que desce pela nuca abaixo e nos agarra e envolve, é o sinal que é altura para escrever.

Até à próxima maré alta.

Ass: Russo